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VERDADES DE UM VELHO JUIZ


Em 1948 morávamos em Paraibuna, uma modesta cidade do estado de São Paulo, com menos de 10.000 habitantes, onde faltava quase tudo. Não havia nela nada que se pudesse chamar de restaurante, e se alguém precisasse fazer uma refeição, tinha que se contentar com a comida de algum boteco. Nesta cidade, certa vez meu pai, José Barreto, que era grande conhecedor das causas rurais, foi convocado para fazer a avaliação de uma fazenda que estava penhorada.

Terminado o trabalho, meu pai convidou o Dr. Edmundo Askar, que era juiz, para almoçar em casa, no próximo domingo. Após o almoço, o Dr. Askar perguntou a minha mãe se ela não poderia fornecer refeições para ele e também para o promotor e o delegado. Depois de consultar meu pai, ela aceitou o pedido, e além dos já citados, um advogado passou a fazer parte desta turma. Eu, sendo o filho mais velho (14 anos), passei a exercer a função de garçom, portanto permanecia junto a eles durante e até após as refeições. Em uma dessas reuniões, das quais meu pai fazia parte, o Dr. Askar disse que os juízes se dividiam em duas classes, a primeira era constituída de juízes vocacionados que faziam da profissão um sacerdócio, mas que a grande maioria era constituída de advogados fracassados em suas bancas, e que buscavam na magistratura uma remuneração garantida
Pelo andar da carruagem, percebo que após 70 anos a roupagem mudou um pouco, mas o corpo continua o mesmo. Se não vejamos, além do teto remunerativo, a classe foi incorporando penduricalhos que algumas vezes dobra ou até mesmo ultrapassa este montante, além dos recessos escandalosos que paralisam o andamento da justiça, e conseqüentemente trava o Brasil.
Isto não acontece somente nas cortes inferiores, mas principalmente nas instâncias superiores, e somente elas poderiam moralizar a classe, mas elas encarnam os símbolos da justiça para nada ver, mas têm os ouvidos bem abertos para ouvir o canto das sereias e se deixarem seduzir por elas. Não nego que alguns magistrados até querem moralizar a magistratura, mas o corporativismo por ser muito poderoso, não deixa que seus anseios avancem. Jamais poderemos esquecer que ainda existem togados como Joaquim Barbosa, Sergio Moro, Deltan Dallagnol, Cármen Lucia, Raquel Dodge, e a dedicação da Polícia Federal, e tantos outros que nos fazem acreditar e termos a esperança de um Brasil que seja realmente dos brasileiros e não de meia dúzia de espertalhões. O povo brasileiro tem uma paciência de fazer inveja a Jó, mas aqueles que se julgam donos do Brasil e tudo podem, lembrem que de onde saiu Jó também saiu Golias.

J.Barreto
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