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O documentário conta a história de Mano Nogueira, um importante agropecuarista radicado em Avaré. Entusiasta das artes, Mano, revolucionou o meio agropecuário e teve como ápice na carreira a criação de um dos eventos mais importantes da nossa região a Emapa.

- QUEM FOI MANO NOGUEIRA

Agenor Nogueira Filho, o Mano, o segundo da esquerda para direita foto site A Bigorna
Filho de Agenor Nogueira e Izolina Paes Nogueira.
Pelo lado paterno era neto de Custodio de Assis Nogueira e este filho de Francisco de Assis Nogueira (pai) que tinha outro filho também chamado Capitão Francisco de Assis Nogueira Filho e este tendo saindo de Botucatu permaneceu em Avaré onde foi vereador antes de partir para o sertão. Comprou terras na região da alta Sorocabana, onde fundou a cidade de Assis que leva seu nome. Outro filho de destaque foi o Tenente Coronel Braz de Assis Nogueira, bisavô do professor Aquilino Nogueira Cesar ex-presidente da Câmara Municipal de Avaré. O Tenente Coronel aparece em um livro apontado como a pessoa de maior destaque em sua época a aderir à reforma protestante. Pelo lado materno o Mano era neto do Capitão José Paes de Almeida, destacado líder político de Botucatu. Sua avó (esposa do capitão) Dona Mariana, ao falecer deixou grande herança considerado na época o maior inventário que até então havia ocorrido em Botucatu.
Seu pai Agenor Nogueira foi vereador em diversas legislaturas na cidade de Botucatu, e no livro “As Ruas de Botucatu” sua biografia o aponta como um destacado comerciante de gado e introdutor do gado Zebu na região, “na pecuária foi um dos primeiros a adotar o sistema de rotação de pastos”; “introduziu métodos racionais de lidar com o gado vacum e outros abolindo a pancadaria, gritos e atropelos (podemos dizer que já praticava a doma racional, pois não permitia o uso de esporas e relhos e não permitia corridas de cavalo! Ou qualquer mal trato a animais!). (os parêntesis são nosso) Foi um dos precursores- senão o precursor- do enleiramento permanente, (nas lavouras de café) merecendo especial referencia do agrônomo Rogério de Camargo.”
Ainda o pai do Mano no começo do século passado não contratava funcionário que mantinha pássaros em gaiola e não permitia o uso de estilingue em sua propriedade. Quando via alguém com um em suas terras tomava e destruía. Não permitia a derrubada da mata ciliar; entre outros construía a curva de nível em suas terras. Só plantava no sentido da curva.
Foi proprietário da Fazenda Itaúna vendida ao Sr José Saab, em seguida adquiriu a Fazenda Betânia em Barra Grande, para onde se transferiu em 1946, vindo a falecer em 1952. A qualidade desta Fazenda era bem inferior à anterior e a decadência econômica foi uma conseqüência inevitável. Com seu falecimento, as terras foram fracionadas entre os vários herdeiros e dado a baixa fertilidade do solo se tentou de várias maneiras sua recuperação. Sob a orientação do agrônomo Dr. Odilon Nogueira o Mano depois de assistir a uma palestra, deu início a uma experiência, adotou o termo “Rotação de Pastagem” e passou a dividir os pastos em piquetes e deu início a vários procedimentos. Um deles era deslocar o cocho de sal deixando por algum tempo em um local e em seguida mudar para outro promovendo assim uma distribuição por igual do esterco. O gado permanecendo mais tempo ao redor do cocho com o sal, fertilizava o solo de forma ordenada distribuindo por todo o território. Havia porem alguns entraves. O capim era o nativo e tinha seu próprio ciclo, na época das chuvas florescia para em seguida desaparecer deixando o solo completamente descoberto faltando assim comida para o gado.
Em uma viagem, o dep. Braz de Assis Nogueira irmão do Mano trouxe uma gramínea a pangola. Criou-se uma grande expectativa. Com a rotação e mais a gramínea tudo haveria de melhorar. Porem não demorou muito para a decepção, pois a nova gramínea não suportava o pisoteio e bastava o gado caminhar que ela desaparecia. Porem o método foi aprovado, pois o número de gado no mesmo pasto aumentou. E agora era sensivelmente melhor, mas distante do pasto em uma boa terra!
Ao lado desta experiência o Mano deu início a outros projetos: Contando com a participação de alunos da Faculdade de Botucatu, ainda na década de 60, deu início à inseminação artificial do gado. E promoveu a integração da ovinocultura com gado. Neste tempo freqüentava sempre os cursos em Itapetininga e eu mesmo fui a um deles
Sem perda de tempo iniciou a seleção de gado de raça e passou a freqüentar as exposições. Foi premiado em várias delas, mas o maior capital foi ter feito inúmeros amigos entre os maiores criadores de gado do Brasil e que freqüentavam sua casa.
Sempre participava nas exposições de gado. À sua volta havia sempre algum interessado comentando sobre sua participação.
No desfile do Centenário de Avaré, participou com um carro alegórico apresentando uma fiandeira com uma roca, tecendo a lã que era produzida em sua propriedade.
Por esse tempo participava ativamente em muitos eventos e instituições como o Rotary e foi um dos organizadores da Associação Rural de Avaré e veio a ser seu presidente em 1966, ano da segunda Emapa.
Em uma conversa com o João Tezza poucos dias antes de seu falecimento me dizia que conversava muito com o Mano na Associação Rural, sobre a realização de uma exposição em Avaré.
Em conversa recente o Flávio Fernandes, filho de Dona Florisa, me contou que saindo de umas das reuniões do Rotary foram até sua casa e o Mano dizia, “vamos organizar uma exposição aqui em Avaré?”
Ao voltar de uma das exposições em Itapetininga reuniu em sua casa os agropecuaristas de Avaré. Depois de muita conversa a decisão tomada foi a de que o Mano deveria procurar o prefeito Dr. Paulo Araujo Novaes, e propor a realização de uma exposição em Avaré. E isso foi feito. Em companhia do vereador Alfredo Marque do Valle seu cunhado, foram e receberam o aval do prefeito. Ficou definido que a Exposição seria Municipal e Agro Pecuária e de Avaré. Compondo a sigla EMAPA.
Em seguida foi composta a comissão organizadora sob a presidência do Mano com todas as pessoas relacionadas no catálogo oficial da primeira EMAPA (a relação consta em nosso artigo, ”Assim Nasceu a Emapa”).
Quanto à sua vida particular o Mano enfrentava terríveis problemas. Foi diagnosticada uma patologia renal grave.
Com o golpe Militar de 1964, e a implantação das medidas econômicas, passamos um período de recessão que abalou de forma implacável sua vida econômica (em todo lugar a “quebradeira” foi geral). Passou a depender cada vez mais de empréstimos, que o levou a uma situação de inadimplência e muitas dívidas se acumularam,ficando sem condições de pagar. Por outro lado a inflação corroia cada vez mais suas finanças. Seu relacionamento familiar se deteriorava. Sua vida social passou a ser cada vez mais conturbada. Alem de ver cada vez mais seu patrimônio definhar, seu relacionamento piorava a olhos vistos, seu problema nos rins se agravava, e hoje sabemos que este tipo de patologia leva a pessoa a ter um comportamento atípico (seria o bipolar?). Alternando momentos de bom humor com outro de agressividade.
Depois de criar a Emapa e ter sido o primeiro presidente e ter conseguido consolidá-la, foi afastado, mas nunca deixou de participar até quando lhe foi possível. (apesar disso os grandes expositores não o esqueceram quando vinham para a Emapa não deixavam de freqüentar sua casa e sempre esperavam que um dia ele ainda pudesse voltar; eram seus amigos).
Uma grande tragédia se deu: seu filho do meio, depois de ter pegado escondido o carro de sua mãe da garagem, foi em direção ao Estado do Paraná onde sofreu um acidente fatal. Com a separação da esposa por divórcio, deu início a um namoro tido em Avaré como “escândalo” (“aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra”), com uma artista de Televisão que chamava mais a atenção por seu lado excêntrico que por qualquer outro atributo, a Wilza Carla que veio a desempenhar o papel de Dona Redonda em umas das novelas da Globo.
A decadência econômica fez com que viesse a vender sua Fazenda e o pouco que lhe restou, com muita dificuldade pode transferir-se para Londrina onde vivia graças à hemodiálise esperando por um transplante que pudesse lhe salvar a vida. É bom lembrar que neste tempo a técnica ainda era incipiente e o risco de rejeição era imenso. Depois de um transplante foi vítima da rejeição. Sua saúde entrou em colapso até que em dezembro de 1978, veio a falecer.
E a Emapa ficou para os que têm dado continuidade a sua grande criação.
Resta-nos perguntar:
- Teria sido em função destes fatos que tão devotado cidadão não recebe por parte das autoridades o reconhecimento de sua participação efetiva na consecução da EMAPA?
- Qual é a dificuldade para o reconhecimento de que sua participação foi decisiva e que sem ela dificilmente teríamos a EMAPA da forma como a conhecemos?
- Estaria faltando mais provas alem das que já apresentamos?
- Estaria faltando mais depoimentos alem dos já apresentados?
Não podemos acreditar que seu comportamento na vida particular possa ser a desculpa para o não reconhecimento de sua grande obra. Ou seja, a EMAPA.
Penso que ainda seja tempo da reparação. Temos aí sua viúva, pois voltaram a contrair novas núpcias. Uma mulher de quase oitenta anos que passou por toda essa tragédia.
Viu seu patrimônio ruir.
Perdeu seu filho do meio de forma trágica.
Perdeu o marido em momento de grande dificuldade.
Perdeu seu filho mais velho com o mesmo mal que acometera seu marido.
Doou a ele um de seus rins, mas houve rejeição.
E este veio a falecer enquanto aguardava um novo transplante.
O último filho que lhe resta vive com um órgão transplantado. Posto que esteja afetado pela mesma patologia do pai e do irmão.
Frente ao exposto esperamos que houvesse sensibilidade e se promova um reconhecimento público a tão devotado cidadão por parte das autoridades a quem tanto fez por Avaré, na figura de sua viúva.
E que se faça algo para marcar de forma permanente e inequívoca este fato.
“Povo bom e gentil em teu seio forasteiro encontra guarida”