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PÁGINA DE DOMINGO "Por que o carro brasileiro do futuro deveria ser a álcool e não elétrico?"


  • Especialistas defendem que a tecnologia criada há décadas no país ainda é uma maneira sustentável para controlar as emissões dos gases responsáveis pelo efeito estufa.

Segundo maior produtor mundial de etanol do planeta, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, o Brasil pode se beneficiar do uso desse combustível para aliviar as emissões de gás carbônico (CO2), que é associado ao efeito estufa e um dos causadores do aquecimento global.




Especialistas defendem que a tecnologia criada há décadas no país ainda é uma maneira sustentável para controlar as emissões dos gases responsáveis pelo efeito estufa



"O Brasil tem uma chance de ouro que não utiliza: temos o etanol, que é uma solução única no mundo", afirma Renato Romio, chefe da Divisão de Motores e Veículos do Instituto Mauá de Tecnologia. "Todo mundo acha que o carro a álcool é coisa do passado, mas na realidade estamos em uma situação que nenhum país vai conseguir alcançar em curto prazo, que é a baixa emissão de CO2 a partir do etanol."

Na década de 1970, após o mundo enfrentar a crise do petróleo (que foi responsável por um choque de preços dos combustíveis fósseis), o Brasil incentivou a substituição da gasolina pelo álcool etílico produzido a partir da fermentação da cana-de-açúcar por meio do Proálcool (Programa Nacional do Álcool).

Apelidado carinhosamente de Cachacinha, o Fiat 147 foi o primeiro carro produzido no país equipado com um motor que rodava exclusivamente a álcool — lançado em 1979, o modelo contava com um propulsor 1.3 que produzia modestos 62 cv.

"O Brasil chegou a ter mais de 90% de sua frota de veículos novos rodando com álcool, ou seja, sem emissão de CO2, algo que nenhum país do mundo terá nos próximos 50 anos", afirma Romio.

Vale lembrar que os motores a etanol também são responsáveis pela emissão de gás carbônico, causada no momento da queima do combustível. Mas como a matéria-prima do álcool etílico é a cana-de-açúcar, o CO2 liberado na atmosfera acaba sendo "recapturado" durante o crescimento de seu cultivo. Além disso, as emissões são menores do que com o uso de gasolina.

Para quem não se lembra das aulas de Biologia: para uma planta se desenvolver, ela utiliza dióxido de carbono e água no processo de fotossíntese e acaba liberando oxigênio. Ou seja, há um equilíbrio em relação às emissões por conta do "sequestro" do carbono.

Os especialistas em mobilidade afirmam que o Brasil, assim como os Estados Unidos, tem o privilégio de contar com extensas áreas agricultáveis, o que facilita a plantação de cana-de-açúcar ou milho para a produção de combustível — algo que não é possível em países com dimensões territoriais mais reduzidas.

É por conta disso que a ampliação do uso do etanol no Brasil seria um projeto mais efetivo em curto prazo do que a adoção em larga escala da eletrificação, por exemplo. "O país tem gás natural, que é usado no processo do refino do petróleo, o Brasil é um dos maiores produtores de hidrogênio do mundo, mas o etanol é uma grande fonte de energia: de forma teórica, temos sete vezes mais energia que a Usina de Itaipu usando 100% o bagaço de cana", afirma Gerhard Ett, professor de Engenharia Química da FEI.

Atualmente, empresas brasileiras já estão desenvolvendo o chamado etanol de segunda geração, que é produzido a partir da fermentação do bagaço da cana e do milho. Com isso, há menor desperdício e a possibilidade de aumentar a produção de combustível utilizando a mesma quantidade de matéria-prima. A Cosan, uma das grandes empresas do setor, tem planos de construir três usinas para produzir 300 milhões de etanol de segunda geração nos próximos anos.

Em outras regiões do mundo que não podem contar com a adoção de biocombustíveis, a opção por adotar veículos elétricos ou por combustíveis sintéticos vêm ganhando força: em parceria com a empresa alemã Siemens, a Porsche fechou um acordo para inaugurar uma fábrica experimental no Chile que produzirá "e-combustíveis" a partir de 2022.

Apesar de ser um combustível plenamente viável no Brasil, o etanol enfrenta desafios se quiser tomar o lugar da gasolina. Como tem menor rendimento, seu preço tem de ser mais vantajoso em relação ao combustível fóssil, algo que nem sempre é possível por conta da volatilidade da cotação da cana-de-açúcar — com o dólar nas alturas, os produtores rurais preferem exportar o produto do que deixá-lo para consumo interno. Além disso, as empresas precisam manter uma oferta constante de álcool mesmo nos períodos de entressafra (que ocorre entre dezembro e março). O carro do futuro vai rodar a etanol no Brasil?

Autoesporte Por Thiago Tanji

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