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PRETO OU BRANCO: QUAL SEU LADO?


 


 

Enfim a escravidão “acabou” – de fato, não. 

E começa mais uma agressão ao povo negro. 

Como decorrência da abolição da escravatura, com a queda na mão de obra, surgiu a necessidade de adquirir novos trabalhadores rurais, e assim, os europeus (italianos e outros) foram gentilmente convidados à trabalhar nos campos, e brancos e negros ficaram felizes para sempre. 


Parece lindo, mas não é real. 

A verdade é muito outra. 

No nosso tempo, as Américas foram as grandes importadores de pessoas de África que foram escravizadas. Entre 1500-1867 o número é espantoso: 12.521.337 fizeram a travessia transatlântica, das quais, 1.818.680 morreram a caminho e foram jogados ao mar. 

O Brasil foi campeão do escravagismo. Só ele importou, a partir de 1538, cerca de 4,9 milhões de africanos que foram escravizados. Das 36 mil viagens transatlânticas, 14.910 destinavam-se aos portos brasileiros. 

Estas pessoas escravizadas eram tratadas como mercadorias, chamadas “peças”. A primeira coisa que o comprador fazia para “trazê-las bem domesticadas e disciplinadas” era castigá-las, “haja açoites, haja correntes e grilhões”. Os historiadores da classe dominante criaram a legenda que aqui a escravidão foi branda, quando foi crudelíssima.” (Leonardo Boff) 

 

Os negros após a assinatura da carta de soltura feita pela Princesa Regente continuaram a trabalhar nas lavouras, exceto aqueles que se aquilombaram e constituíram sociedades paralelas. 

Dessa forma, derruba-se o mito que não havia trabalhadores para os campos. Havia e muitos. 

No entanto, após o surto da Frenologia no mundo (pseudociência que associa o formato da cabeça e corpo ao caráter do indivíduo) chegou-se à conclusão que o Brasil estava repleto de negros, e dado a pseudociência acima descrita, o país não lhes parecia confiável. 

A partir de então, iniciou-se a campanha de embranquecimento da população nacional. Para isso, o governo ofereceu benefícios (como casa, terras, créditos etc) para que europeus viessem à terra do pau-brasil para constituir um novo povo: o Povo Branco Brasileiro. 

Ruy Barbosa, influente à época, começou uma devassa e ordenou se queimassem qualquer registro do período escravocrata. O que resultou em uma rarefação dos documentos históricos que ilustrassem as condições de vida dos Negros no Brasil. 

Começa então a nova história.  

Casa Branca e Senzala é uma obra clássica, e importante, para a época. O romance escrito por Gilberto Freire retrata a luta escravocrata dos tempos de império após a abolição. Nesse texto Freire esboça a chamada DEMOCRACIA RACIAL, cujo propósito é demonstrar que todas as raças são iguais e tratadas da mesma forma, e que assim seria o Brasil. 

Mais a frente, Florestan Fernandes denuncia o engodo daquela obra, pois não havia e não há qualquer democracia racial. Ao contrário! 

Inúmeras vezes ouvimos dizer que no Brasil não há racismo (Vice Presidente Mourão disse a pouco), no entanto, além de falaciosa informação ela inibe que Racismo é qualquer ato segregatório contra o outro.  

E mais, não é possível comparar países nesse aspecto pois nos Estados Unidos, onde  a civilização também foi forjada por escravos, adotou-se uma política higienista e punitivista contra os negros – Ku Klux Klan é um exemplo.  

Na África, o apartheid. 

Já no Brasil o preconceito foi escamoteado em belas histórias de convivência pacífica e gloriosa. 

E qual resultado disso? A deslegitimação da realidade do povo negro brasileiro e pior, a cegueira coletiva, pois, se for perguntar para um leigo, com certeza a resposta será que no Brasil não tem Racismo. 

Dito tudo isso, a luta atual é pelo resgate da história escravocrata nacional para que se aprenda com o passado e não  cometa os mesmos erros no futuro. Somado a isso, é oportunidade que se tem de conhecer o passado de cada negro no Brasil. Qual sua origem? Quem são os seus antepassados? Onde está minha verdade? 

A história foi toda contada pela versão dos vencedores: Dos Brancos que açoitaram corpos negros. 

E a sua história, está sendo contado por quem? 



JULIANO AMARAL

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