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VOCÊ ENSINA SEU FILHO COMO SER NEGRO



JORNAL DO GUMA

Por Juliano Amaral

Uma das grandes dificuldades do movimento negro no Brasil é juntar mais povos negros e assim aumentar o número de indivíduos que lutarão pela igualdade entre as raças.

Dentre a dificuldade encontrada não está só em o ser adulto se ver como Negro e, portanto, empoderar-se da luta antirracista, mas também nas crianças.

Muitos menores estão expostos às condições raciais de modo ainda mais violento do que os vividos por adultos, uma vez que crianças, em seus círculos sociais, estão expostos à eurocentrização, o que refletirá certamente na formação do indivíduo social.

O meio social ao qual um menor é estimulado em todos os níveis é na Escola.

Dentro da escola o ser passa a ser “moldado” com cabedal técnico e teórico que serão de grande uso na fase adulta. E por assim, a consciência de raça não pode ficar de fora dos bancos escolares.

Desde de sempre crianças foram expostas à uma importunação sistêmica, que tem por mote ridicularização do outro, o chamado Bullying.

Embora não seja o tema central deste, mas as atitudes do grupo social infantil trarão inúmeros reflexos na vida adulta.

Em sendo a escola o primeiro exemplo de sociedade da pessoa, é nesse ambiente que a autoconsciência da sua raça deve ser sedimentada através de atividades escolares que propicie essa consciência.

Em uma pesquisa feita em 2006, Paulo Sérgio Andrade revela identifica ambiguidade entre jovens de pele clara, em identificar-se entre como ela ou ele se vê e como os outros o veem, entre o que deseja ser e o que os outros avaliam que é; Então pergunta-se: “Sou negro ou não? Como posso ser branco se as pessoas brancas me veem como negro?”

Nota-se que a ambiguidade é nefasta. Sou branco pela pele clara, mas preto por ser filho de quem sou, e viver da forma que vivo.

Negritude não é sobre cor de pele; Negritude é sobre o que meus antepassados representam nessa sociedade.

Umas das origens desse descalabro advém da falta de oportunidade de conteúdo antirracistas a serem oportunizados em sala de aula. Não por despreparo técnico do docente, mas por falta de apoio institucional para tanto, ainda mais nesse período cuja militância tem sido confundida com política. E digo claramente: Não é, militância é representatividade!

Em uma cena, Narcisa teria que fazer um recorte, de uma revista qualquer, de alguma personalidade que lembrasse sua mãe, para seu desespero, a mesma não conseguir fazer a tarefa e por isso, não recebeu nota. Indagada respondeu: “Não consegui! Nessas revistas só tem mulheres brancas e minha mãe é negra!”

Já em outra cena, um amigo, Alabiyi Pereira, Mestrando em Psicologia em Limoeiro-Pernambuco, deu aula a um grupo de alfabetização acerca da raça negra e lutas raciais, com objetivo de alcançar o maior número de alunos pretos e auto conscientizarem-se acerca do assunto. No início, ao serem questionados quem era negro, ninguém se pronunciou, ao final da palestra, repetida a pergunta, muitos levantaram as mãos com orgulho. Mas o mais revelador foi depois, no final, uma garota se aproximou e disse:

“Tio, eu sei que sou nega! Mas se eu falar, todos vão tirar sarro!"

Portanto fica a dúvida: Nós pretos, educamos nossos filhos e nossos alunos para serem pretos e orgulhosos disso?

Juliano Amaral

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