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Crianças explicam: o ensino remoto não é brincadeira

TV AVARÉ "EDUCAÇÃO

Alunos da rede pública e particular de seis Estados analisam as escolhas, muitas delas ruins, dos responsáveis por controlar a crise de saúde e apontam suas soluções para voltar à sala de aula como ‘lockdown’ por um mês e vacina para todos.



Dá para aprender pelo computador, só é mais difícil. A orientação dos professores faz muita falta, assim como o tempo com os colegas. Fazer amigos por videoaula é complicado, ainda mais se você é novo na escola. Mas as habilidades com o mundo eletrônico melhoram muito, para quem tem acesso à internet. Os que não têm passam mais dificuldades, claro. Porém há os que descobriram, quem diria, que até pode ser legal fazer aula ouvindo um objeto mais familiar a seus avós: o rádio.


Essas são algumas das conclusões de alunos da rede pública e privada de seis Estados do Brasil, que há um ano enfrentam o desafio de aprender com o ensino remoto por causa da pandemia. Em todo o mundo, crianças viram suas vidas virarem de cabeça para baixo com a chegada do coronavírus, mas costumam ser as últimas a serem ouvidas sobre o assunto. Engana-se quem acredita que elas não entendem o que está acontecendo ao seu redor. Nada escapa, principalmente as escolhas —muitas delas ruins— dos responsáveis por controlar a crise sanitária, que há mais de um ano empurrou os estudantes de todo o mundo para o ensino remoto. Por isso, o EL PAÍS foi escutá-las. Perguntou, por meio de entrevistas feitas pelo aplicativo Zoom, como tem sido a adaptação a essa realidade, que promete seguir por outro ano letivo.

“Os adultos deveriam ouvir as opiniões das crianças, porque na escola corremos risco de nos contaminar. E se isso acontecer, não é possível ficar internado, porque os leitos de UTI estão cheios, o oxigênio está acabando para quem precisa. É melhor que as crianças fiquem em casa”, analisa Isis Samantha dos Santos Viana, de 11 anos, que enfrentou a aventura de mudar de escola e de Estado em meio à pandemia no final do ano passado. Ela e sua mãe foram de Malhada, primeira cidade da Bahia a receber as águas do rio São Francisco, para o outro lado do país, Querência, município do cerrado mato-grossense, onde está localizado boa parte do Parque Indígena do Xingu.

Encontrar a escola aberta foi uma surpresa. Após quase um ano estudando à distância na rede pública de Malhada, voltar à sala de aula, mesmo que em semanas alternadas, no chamado modelo híbrido, fez com que a menina encontrasse o acolhimento de professores e dos novos amigos. “Fiquei feliz, não estava mais aguentando ficar em casa”, conta. “Quando você estuda em casa, não tem quem dê explicação [do conteúdo]. Você fica parada, sem fazer nada, pensando: ‘Meu Deus, o que vou fazer com essa atividade?’.”

A menina dribla a timidez entre sorrisos para falar sobre sua percepção da pandemia. Nada fica de fora: a reabertura das escolas, medos, casos de conhecidos que tiveram covid-19, soluções para a crise. E sonhos, para quando tudo isso acabar. “Tenho medo de pegar coronavírus. Tenho dois colegas que pegaram. Acho que tem que fechar os bares e restaurantes, mas deixar as escolas abertas uma semana sim e outra não”, diz a menina.

Do outro lado do país, Matheus Barbosa de Souza, 12 anos, mora em Malhada, a cidade que Samantha deixou, e reclama que é difícil estudar on-line. “Na escola, temos os professores orientando. À distância, eles só mandam a atividade para ler, não tem conversa”, conta. O aluno da rede municipal afirma que, desde que a pandemia começou, não encontra mais os amigos. “Eu só brinco com meus irmãos. Meus amigos não vêm aqui em casa e eu não vou na casa de ninguém. Minha mãe não deixa eu ir à rua”, diz. “Eu acho que ano que vem já vai ser mais seguro para abrir as escolas. Este ano não, porque agora tem essa nova variante da covid-19, e ela está chegando na nossa região”, afirma Matheus, em referência à cepa de Manaus do coronavírus, mais agressiva e contagiosa.

A preocupação de Matheus tem amparo na ciência. Até o ano passado acreditava-se que as crianças desenvolviam menos sintomas e tinham taxas de mortalidade mais baixas. Atualmente, porém, vê-se o número de internações dos mais jovens aumentando, na medida em que crescem os casos provocados pela nova variante. Ainda não há dados para afirmar se essa nova cepa mira ou não as crianças, mas já se sabe que o impacto da pandemia sobre a infância é brutal. A Organização das Nações Unidas alerta que as medidas para controlar o vírus, como o fechamento das escolas, afetam o direito à educação de mais de 1,5 milhão de crianças e adolescentes ao redor do mundo, especialmente os estudantes de regiões mais vulneráveis.

EL PAÍS

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