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Mulheres e calças: uma história não tão simples e um pouco mal contada

JORNAL DO GUMA 

@montagem divulgação: Comum nos dias de hoje, mas fruto de muita luta, para  as mulheres poderem usar.

Mulheres que não se dizem feministas mal sabem que, ao usar uma calça, estão abraçando um ato político. Séculos atrás, usar a peça de roupa era proibido para as mulheres. Na França, inclusive, uma lei que restringia o uso de calças por elas perdurou oficialmente até 2013, quando foi revogada. 

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© Fotos: Wikimedia Commons
Ao contrário do Ocidente, as mulheres de sociedades orientais estavam acostumadas a usar calças há milhares de anos. A História mostra que nos territórios do Império Otomano, a prática era comum. 

Diz-se que o desejo das mulheres ocidentais por usar calças não partiu originalmente da luta pela igualdade de gênero, mas de ver mulheres otomanas fazendo o mesmo. De acordo com o site “Messy Nessy”, a escritora e feminista inglesa Lady Mary Wortley Montagu foi um dos raros exemplos de mulheres ocidentais que tiveram o privilégio de visitar Constantinopla e atestar com os próprios olhos o uso recorrente de calças. 

Na cultura turca, homens e mulheres eram acostumados a usar calças — chamadas de salvar — porque ambos os gêneros costumavam cavalgar por longas distâncias. A peça de roupa ajudava a tornar as viagens mais confortáveis. 

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Lady Mary ficou impressionada que mulheres podiam andar pelas ruas desacompanhadas e ainda usando a peça de roupa que, na Europa, era restrita aos homens. Na volta para casa, carregou em sua mala algumas peças para mostrar à sociedade britânica, o que iniciou um intenso debate entre a elite da moda. 

Com cada vez mais mulheres viajando ao Oriente, as restrições europeias sobre as calças foram caindo, graças ao exemplo indireto dado por mulheres orientais muçulmanas a aristocratas europeias. 

Foi durante a era Vitoriana (1837-1901) que insurgentes feministas passaram a lutar pelo direito de usar roupas mais confortáveis do que os vestidos pesados e complexos da época. O movimento pela reforma na moda foi também chamado de “moda racional”, justamente por argumentar que calças e outros estilos de vestidos seriam mais práticos de serem usados. 

Além de permitirem uma movimentação mais fácil, as calças também ajudariam as mulheres a se protegerem melhor do frio. 

© Fotos: Wikimedia Commons
A primeira calça feminina ocidental ficou conhecida como bloomers, em referência ao nome de Amelia Jenks Bloomer, editora de um jornal voltado para o público feminino. Ela passou a usar calças como as mulheres muçulmanas do Oriente, mas com um vestido por cima. Era uma combinação dos dois mundos e um avanço na pauta repressora.

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Por outro lado, é claro que uma boa parte da sociedade classificou a transformação no estilo como algo difamatório. Ainda mais por ser um hábito proveniente do Império Turco Otomano, não cristão. A família tradicional cristã da época atrelava o uso de calças a práticas quase que hereges. Houve até mesmo médicos dizendo que usar calças era um perigo à fertilidade feminina. 

Com o passar das décadas, o uso de calças por mulheres teve altos e baixos. Mesmo no começo do século XX, só era permitido vestir a peça de roupa em caso de atividades esportivas, como tênis e andar de bicicleta. Figuras icônicas para a moda, como a estilista Coco Chanel e a atriz Katharine Hepburn, tiveram um papel importante na normalização das calças femininas, mas a Segunda Guerra Mundial foi o verdadeiro ponto de virada para essa história. 

Com uma maioria de soldados homens nos campos de batalha, coube às mulheres ocuparem espaços em fábricas e as calças eram mais práticas e funcionais para o tipo de trabalho. 

© Fotos: Wikimedia Commons

© Veronica Raner© Veronica RanerHypeness
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