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A reinvenção do Fusca

JORNAL DO GUMA
Da Isto É
Uma das maravilhas do capitalismo industrial e da sociedade de consumo, o Fusca nunca vai acabar. Mesmo fora das linhas de montagem da Volkswagen, seu design continua pulsante e inspirando cópias. A montadora chinesa Great Wall Motors, que, há três meses, anunciou a compra de uma das fábricas da Mercedes-Benz no Brasil, desenvolveu um clone do carro, agora com motor elétrico, que se chama Ballet Cat e começa a ser vendido no mercado asiático. O modelo, apresentado no último Salão de Xangai, foi criticado pela Volkswagen devido à semelhança com seu produto mais emblemático e a empresa estuda tomar medidas judiciais para garantir os direitos sobre suas patentes. Seja como for, no Brasil, a Great Wall já registrou o carro no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e deve iniciar sua comercialização em 2023. Será uma espécie de volta triunfal do Fusca, cuja última versão clássica parou de ser produzida no México há 18 anos. Já o New Beetle, lançado quando seu antecessor desaparecia, saiu definitivamente de linha em 2019.


© Divulgação DivulgaçãoA história do Fusca, cujo nome original é VW Sedan, é conturbada. Idealizado como carro do povo por Adolf Hitler e projetado pelo engenheiro austríaco Ferdinand Porsche, para chegar ao mercado o modelo teve que atender a uma série de pré-requisitos dos nazistas, como ser robusto e adaptável ou carregar dois adultos na frente e três crianças atrás, atingir 100 Km/h e percorrer 13 Km com um litro de gasolina. Na versão conversível para o Exército deveria acomodar três soldados e uma metralhadora. Outra questão polémica é que o veículo está longe de ser um desenho original e tem uma dianteira copiada do modelo tcheco Tatra T87, produzido a partir de 1936 – o Fusca só foi lançado dois anos depois. Hitler adorava os carros da Tatra e achava que eram os veículos perfeitos para circular nas novas autoestradas alemãs. Porsche também admirava a montadora, a ponto de roubar suas idéias, e mantinha contato com seus proprietários. Posteriormente, a Alemanha dominou o país vizinho e se apropriou de todas suas propriedades. Mas a prova de que houve plágio do veículo tcheco é que em 1961 a empresa alemã pagou 3 milhões de marcos de indenização para a Tatra por apropriação de propriedade intelectual e quebra de patentes.Quando o Fusca foi lançado, a indústria automotiva europeia não acreditava num carro pequeno para as massas e nem em um projeto estatal para produzi-lo. Mas o êxito do produto foi quase instantâneo. O Fusca também estabeleceu o conceito de plataforma em que um chassi completo padronizado ou adaptado pode receber várias carrocerias diferentes. No Brasil, a partir da base do sedã arredondado da Volkswagen foram criados pelo menos dez modelos, como a Brasília, o Karmann-Guia e a Kombi. Com 24 milhões de unidades produzidas, o Fusca é um dos quatro carros mais vendidos da história – só perde para o Toyota Corolla, para o Golf, da própria Volkswagen, e para a picape Ford F-Series. Em 1986, deixou de ser fabricado no Brasil, já que a empresa pretendia produzir modelos mais modernos em suas linhas de montagem. Seis anos depois, porém, ele voltou a ser fabricado por pressão do presidente Itamar Franco, que criou a lei do carro popular, estabelecendo isenção de impostos para veículos com motor 1.0 ou com motores refrigerados a ar, caso do Fusca e da Kombi. Essa última etapa da existência do modelo no Brasil terminou em 1996.
O Ballet Cat foi desenvolvido pela divisão de veículos elétricos da Great Wall, a Ora. O modelo tem duas versões, uma com autonomia de 400 Km com uma recarga completa de bateria e outra de 500 Km. A empresa alega que se trata de uma homenagem ao Fusca, embora as coincidências visuais sejam inúmeras. A Volkswagen, até agora, não se manifestou oficialmente e vem aceitando a situação. Mas a rapidez para registrar o modelo no órgão de proteção de patentes no Brasil e também na Europa indicou que os objetivos da montadora chinesa são ambiciosos. Eventualmente, um conflito judicial pode ser iniciado. Nos planos para o Brasil, a Great Wall pretende priorizar veículos elétricos, que poderão inclusive ser produzidos na unidade adquirida pela montadora em Iracemápolis (SP). E o clone do Fusca pode entrar nessa linha de montagem. É um design de futuro.
© Heinrich Hoffmann

Projeto nazista

Idealizado por Adolf Hitler e projetado pelo engenheiro Ferdinand Porsche, o Fusca precisou atender a uma série de pré-requisitos dos nazistas para chegar ao mercado, como carregar dois adultos na frente e três crianças atrás ou percorrer 13 Km com um litro de gasolina. Na versão militar, acomodava três soldados e uma metralhadora
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