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Silêncio de Bolsonaro, 'intrigas' familiares e caminhoneiros alimentam dúvidas sobre transição pacífica

Jair Bolsonaro é o primeiro presidente derrotado a não se pronunciar à nação logo após o resultado de uma eleição no Brasil. Na manhã desta segunda-feira (31) após o pleito, na expectativa pela reação do chefe de Estado, movimentações de Bolsonaro e sua família nas redes sociais e o bloqueio de estradas por protestos de caminhoneiros levantam dúvidas sobre o caráter pacífico da transição política no país.

Depois do anúncio da vitória de Lula, o presidente permaneceu calado no palácio da Alvorada, em Brasília, e recusou-se a receber até ministros que tentaram contato, conforme apontou a imprensa brasileira. As luzes do palácio foram apagadas às 22h06.


  • Pela manhã, por volta de 9h30, seguiu para o Planalto, ainda sem se pronunciar publicamente, e recebeu seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, e o candidato a vice na chapa derrotada, general Braga Netto.

JORNAL DO GUMA

Da RFI

Para o cientista político Guilherme Casarões, professor da FGV- SP, o presidente parece estar esperando “cair a ficha" da derrota – embora o seu desempenho nas urnas tenha demonstrado a força do bolsonarismo, ao conquistar quase 7 milhões de votos a mais do que no primeiro turno e perder o pleito por uma diferença de apenas 1,7% das urnas.

“Eu fico pensando se valeria a pena para ele tentar algum tipo de ruptura democrática a essa altura. Ele teria muito poucos argumentos para contestar as eleições, como fraudes ou acusações que, em geral, são muito pouco fundadas. Ao se manter em silêncio e tentar aceitar o resultado, ele se credencia para voltar à vida política de maneira plena em 2026”, analisa. “Se ele não rompe agora de maneira escancarada com a democracia, ele é um candidato fortíssimo e natural para a próxima eleição”, salienta.

Agito nas redes sociais

Enquanto isso, nas redes sociais, internautas perceberam que Bolsonaro e a esposa, Michelle, não se seguem mais no Instagram. A primeira-dama e o segundo filho do mandatário, Carlos, vereador no Rio de Janeiro, também não se acompanham mais um ao outro desde a madrugada. Até o início da tarde desta segunda-feira, nenhum dos três tinha publicado algo a respeito.

A ausência de Michelle, aliada importante do presidente durante a campanha para conquistar o voto feminino, foi percebida no dia da votação e nas vésperas do pleito. O líder votou sozinho no Rio de Janeiro, enquanto a esposa foi às urnas no Distrito Federal – para onde Bolsonaro se dirigiu logo após votar.

Paralelamente, diversos protestos de caminhoneiros, provocando bloqueio de rodovias, começaram a surgir por todo o país. Barricadas com pneus em chamas foram erguidas na Bahia, em Goiás e outros estados, num total de 11 que registraram paralisações, conforme informou a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Os caminhoneiros, entre os quais a adesão a Bolsonaro é maciça, protestam contra o resultado das eleições.

Em nota, a PRF afirmou que atua desde domingo para liberar os acessos. A instituição  acionou a Advocacia Geral da União para solicitar uma liminar para proibir os atos.

"Se Bolsonaro fica calado, ele deixa margem para que seus apoiadores possam tentar alguma coisa contra a democracia”, ressalta Casarões. "Os próximos dias serão muito importantes para a gente entender que bolsonarismo será esse do processo de transição. Se será um que aceita o resultado e está disposto a jogar o jogo, ou se vai tentar radicalizar até o limite”, observa o cientista político.

Desde 2002, o Brasil dispõe de uma legislação específica para tratar sobre a transição de poder entre governos. O candidato eleito tem o direito de constituir uma equipe de até 50 pessoas, que devem ter acesso pleno a informações sigilosas e estratégicas do governo em fim de mandato. Bolsonaro tem, portanto, a obrigação de facilitar este acesso.

No domingo, Lula demonstrou dúvidas sobre se o procedimento será respeitado.“A gente nem sabe se o governo vai querer fazer transição”, comentou Lula, ao falar sobre  a importância de que o processo seja realizado com transparência e cooperação entre a sua equipe e a do governo atual. O presidente eleito declarou que pretende divulgar no máximo até quarta-feira o nome do coordenador da sua equipe nestes dois meses até a posse. O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, é o mais cotado, conforme apurou a Globonews.

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