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Taquarituba "Velhos Tempos"

Ilustrativa
JORNAL DO GUMA

Artigo Especial 

Lá naqueles tempos, quando Taquarituba, era apenas um lugarejo, quando tinha algo em torno de dois mil habitantes (cálculo meu, que pode estar errado), eu era apenas um menino que jogava bolinhas de gude, bibioquê (diz que o correto é bilboquê), pião, ia ao rio que existia nos lados da Chácara do Chico Mineiro (Francisco José de Almeida) e do Domingos Garbelotti, chamado piscina, e encenava cirquinhos com os amigos que moravam no nosso lado da cidade, que era então chamado "bairro de cima".
Taquarituba (Acervo histórico)

E lá, naqueles tempos, as nossas necessidades fisiológicas eram feitas na privada de fossa negra e tomávamos banho na bacia e - muito tempo depois - no chuveiro de balde.
Ah ... mais! Nós também íamos ao cinema.
Lembra? O cinema era do Toninho Alher... O cine São Roque, onde hoje é a agência do Banco do Brasil.
Depois, vieram as brincadeiras dançantes e os bailinhos no CRT, e as namoradas. Poucas namoradas.
Eram os tempos das músicas do Elvis Presley, do Paul Anka, do Neil Sedaka, do Carlos Gonzaga, da orquestra do Ray Conniff, que o Mauro Gabriel e o Ituriel Souto tocavam no serviço de autofalante da Praça São Roque, com seus discos de vinil.
Existiam as famosas alpargatas e, depois, o conga e o kichute.
E tinha o bar do Manoel Alher, onde se fazia um ótimo "bauru".
Usávamos brilhantina glostora ou óleo de lavanda bourbon para arrumar o cabelo, que ficava duro com esses produtos, e, depois, veio o gumex, também para arrumar o cabelo, que tornava o cabelo ainda mais duro.
E usávamos também o pente flamengo e o espelhinho redondo de bolso (que tinha na capinha foto de belas mulheres peladas) para arrumar o cabelo.
E, naqueles tempos, era legal ir aos parques de diversão e nos circos que, de quando em quando, aportavam na cidade, assim como os circos de tourada, também famosos naquela época. Frequentador assíduo das touradas era o "Turquinho" (Mario Abud), que fora toureiro. E, claro, eu também ia, porque me apaixonara pela Leiva.
E nos parques de diversão os brinquedos mais comuns eram a roda-gigante, as barquinhas e o famoso e perigoso "danger", e também o serviço de alto-falante, pelo qual os rapazes ofereciam músicas para as moças.
E me lembro, inclusive, que o Maurílio Gabriel namorou uma linda moça loura que era filha dos donos ou de artistas de um circo que aqui chegou. Não me lembro o nome dela, mas os amigos tinham inveja do Maurílio por namorar a bela moça (inclusive eu).
E também havia os inesquecíveis campeonatos municipais de futebol realizados no campo de terra (o glorioso "campão"), onde o Batatais, o Zé Pretinho, o Zé Negrinho, o João Troço, o Zé Mico, o Paciência, o Pedro Pedroso, o Jairo Pedroso, o Idio Prestes, o João Prestes, o Frederico Prestes, o Paulo Guaru, dentre outros saudosos jogadores e craques (alguns nem tanto), defendiam as cores das equipes dos Sapateiros, dos Pedreiros e dos Comerciários, os grandes esquadrões da época.
Era, contudo, um tempo obscuro, de pobreza, com poucos recursos.
Nós, naqueles tempos, falávamos no 'telefone preto', quando demorava três horas (ou mais ainda) para completar uma ligação.
E falávamos alto, senão o outro lado não escutava (brincadeira).
E naqueles tempos quase não havia carros, e também poucas bicicletas, relógios e canetas.
De fato, eram raríssimos os carros e a bicicleta quem tinha era apenas o Wagner José Penna (infelizmente já falecido), o menino bonito filho do Juca Pena, que fazia questão de mostrar as suas habilidades na "bike".
O jardim tinha grandes árvores e era de terra batida, onde se praticava o famoso "footing", com as moças dando voltas pelo meio do jardim e os rapazes, parados, apreciando o vai-e-vem das moças, para paquerá-las e namorá-las.
No grupo escolar as professoras eram a Da. Terezinha Monteiro, a Da. Lourdes do Niquinho Rolim, a Da. Lourdes do Moacirzão do Táxi, a Da. Lia, a Da. Valkiria do Pedrão Quintino, a Da. Valtelina, e algumas outras que não me lembro mais.
E não havia estradas asfaltadas para Avaré, para Fartura, Piraju e Itapeva, pelo que nos entretíamos com o pouco que Taquarituba oferecia.
E, à época, dado o pequeno número de habitantes, a população ficava profundamente consternada quando alguém falecia, guardando por longo tempo a imagem e a lembrança do finado. Muito diferente dos dias de hoje, quando as pessoas rapidamente enterram e logo se esquecem do defunto.
E, naquele tempo, os nossos pais trabalhavam diuturnamente para melhorar as nossas humildes condições de vida.
E eles conseguiram. (Obrigado pai, obrigado mãe)
No entanto, lá pelos 'anos 60' (mais precisamente, início dos anos 60) o mundo começava a mudar.
E definitivamente mudou.
Primeiro, tomou posse como governador o Professor Carvalho Pinto, que reformou e transformou o Estado de São Paulo, com obras que definitivamente mudaram a face de todas as cidades paulistas.
À época, foi criado o nosso curso ginasial, que logo passou a ter uma bela e inesquecível fanfarra.
Os professores eram o prof. Guido Dias de Almeida (Guidão), o prof. Camel, a profa. Cidinha, a profa. Aydée, o prof. Luiz Barco, o prof. Dimas, a profa. Sônia e a profa. de educação física Dª. Nancy - esta última veio a mudar os conceitos da época ao aproximar os rapazes das moças através da ginástica e do vôlei -, e alguns outros mestres, de saudosas lembranças.
E o carnaval no CRT era dos mais famosos da região, e lá íamos nós pulando e cantando ao ritmo de "mamãe eu quero mamar", "a cabeleira do zezé", "oh quando riso oh quanta alegria"; "estrela d'alva, no céu se esconde", "aquele lencinho", " etc.
E era um tempo gostoso... um mundo de poucas, puras e românticas pessoas, que se conheciam uma a outra. E não havia drogas, mas só cachaça, vodka, rum, gin, menta, whisk e cerveja. E tomavam-se muito os famosos drinques "Cuba-Libre" e "Hi-Fi".
A vida corria devagar, mas gostosa e romântica.
Então surgiu o grande fenômeno que mudou, de vez, o comportamento e os hábitos do jovens no mundo inteiro e inclusive os nossos.
Surgia no mundo da música e dos costumes o conjunto inglês "The Beatles", formado pelos quatro legendários garotos da cidade de Liverpool: John Lennon, Paul MacCartney, George Harrison e Ringo Starr.
A partir daí nada mais seria igual.
E por conta das mudanças que se deram por influência dos Beatles, os jovens passaram a ter novos comportamentos, com cabelos compridos e curtindo a música dos "Beatles", dos "Rolling Stones", do "Creedence Creawater", dos "Jordans", dos "Jet Blacks", do Roberto Carlos, do Erasmo Carlos, do Jerry Adriani, do Wanderlei Cardoso, da Vanderléia, da Martinha, da Vanusa, etc.
E foi nessa época que surgiu a famosa Pizzaria Pistache (do Jairinho Ávila) e o conjunto musical "Os Vibrantes", que era formado pelo saudoso e inesquecível Edison da Cruz Salaki, pelo Jairinho Ávila, pelo Zezo e pelos também saudosos Zé Plácido e o Moita (Vibrantes - que, claro, existiu também por causa e influência dos Beatles).
E esse tempo se estendeu mais ou menos até os anos 70, com o futebol do Brasil de Pelé, Jairzinho, Tostão, Clodoaldo, Rivelino e mais outros craques conquistando a Copa de 70, com o boxe tendo como campeões Muhammad Ali e Sugar Ray Leonard, com as olimpíadas dos Panteras Negras, com a realização do Festival de Woodstook, e com o fim dos próprios Beatles, quando John Lennon profetizou: "O sonho acabou"
Que pena! Esse tempo de fato passou e nunca mais voltará.
É uma pena, amigo, que você não o tenha curtido.
E às pessoas que não tiveram a felicidade de ter vivido esses velhos e belos tempos, o nosso abraço e que busque de alguma forma procurar entendê-los e até mesmo vivê-los, através dos vídeos que afortunadamente vicejam pela Internet, que registram esse fantástico tempo.
E aos amigos que curtiram fica também um grande abraço.
Texto de Raul Ferreira Fogaça - Junho/2013
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