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Projeto de lei propõe licença do trabalho por morte de animal de estimação

  • Benefício de um dia de afastamento valeria para tutores de cães e gatos 

Quando meu cachorro “Cebola” morreu aos 19 anos de idade, ninguém se assustou com a notícia. Ele já havia sobrevivido a um câncer, já havia sido reanimado após uma parada cardíaca, já havia caído do segundo andar da casa, já havia sobrevivido a um AVC e muitas outras histórias loucas que faziam dele um “highlander”.

JORNAL DO GUMA

Texto Sérgio Ricardo dos Santos

 (Unsplash/Xan Griffin/Divulgação) 

Mas o nosso barulhento Maltês (seus uivos quando se sentia sozinho eram famosos no WhatsApp da vizinhança) nos deixou. Eu estava sozinho em São Paulo naquele dia e tive que providenciar o enterro, literalmente. Está enterrado ao lado da laranjeira que fica no jardim da minha casa.

Eu já estava no escritório naquele dia, quando recebi a notícia que ele havia falecido às 9:30h da manhã, aproximadamente. Eu era CEO de uma grande empresa à época e tranquilamente comuniquei a algumas pessoas que eu cancelaria as minhas atividades entre 10-13:00h para ir até a minha casa enterrar o meu grande pequeno amigo.

A reação de algumas pessoas foi reveladora: “que absurdo você deixar de realizar uma reunião importante por causa de um cachorro!”, “não entendo a motivação, você tem outros três cachorros!”, “que mensagem o presidente da empresa está passando aos colaboradores?”.

Eu ignorei fala por fala e rumei ao movimento de despedida de um amigo de 19 anos. Amigo que foi capaz de fazer festa todos os dias quando me recebia em casa, por 19 anos, sem falta. Naquele dia eu retornei ao trabalho às 13:00h, como havia combinado. Com indignação, não por estar trabalhando naquela tarde, mas por sentir que algumas pessoas que me cercavam não traziam os valores que eu julgo relevantes na humanidade, valores que hoje tento trazer em minhas reflexões e compartilhar com tantas pessoas.

Recentemente li uma notícia sobre um projeto de lei que pretende isentar colaboradores de trabalhar 1 dia quando seus pets falecem. Não sei se a proposta é factível, há vários senões ao projeto (veja no link abaixo). Mas estamos falando sobre coisas maiores que “perder um dia de trabalho”, ou “perder produtividade”.

Respeitar o luto alheio é ganhar o coração das pessoas, é sentir o que toca e comove o outro. É fortalecer relações e engajamentos que geram fidelidade. Assim se constroem grandes marcas, a partir de emoções verdadeiras e muita, muita empatia.

Ao ler a reportagem, senti de uma só vez aqueles sentimentos negativos todos misturados: perda, indignação, decepção. Uma grande tristeza oriunda da constatação sobre o que estamos fazendo conosco e com o pouquinho de humanidade que resta em nós.



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